domingo, 21 de dezembro de 2008

Crônica de Maitê Proença

Adoro Gay




- Eu adoro gay!

- Como assim, minha filha, quem você conhece que seja gay?

- Todos os seus amigos, e os meus que ainda não têm idade, mas que serão.

- Como todos os meus amigos?

- Mamãe, acorda, você está lentinha, um gay já teria entendido. Tô falando dos seus amigos que são gays, e dos meus, que serão porque tá na cara. Eles gostam de conversar com as meninas, são engraçados, rápidos, vão às compras com a gente, dão palpite na roupa, reparam em detalhes fundamentais e só recomendam filmes que prestam. Os outros meninos gostam de futebol.

Essa é a opinião de minha filha de 13 anos. E juro que não é influência minha, apesar de concordar com quase tudo. Aliás, parece que o mundo concorda. Nunca se viu tanto gay assumido e com fé, e nunca se viu tanta tolerância com isso. Estive em Buenos Aires recentemente e fiquei choquita com a quantidade de bicha chique circulando por las calles. Existe um turismo gay correndo em paralelo, cheio de redutos gay-friendly (o termo não é meu e é sinal dos tempos) para apoiá-lo. São bares, restaurantes, lojas, boates, até casa de tango, aquela dança maravilhosamente chauvinista em que o homem subjuga a mulher, aquela coisa de macho, sabe? Pois é, agora existe, só pra rapazes. O mercado descobriu os gays! E os gays, encantados, responderam com um furor consumista muito acima do esperado. Eles têm dinheiro pra gastar - não têm filhos, e, em geral, num casal ambos trabalham. Gostam da rua, da balada e têm tempo e espírito pra isso. Gay não é quietinho, difícil encontrar um, parece que uma vez saídos do armário querem se exibir pro mundo com orgulho e alegria. Com o senso estético apurado, o apreço por boas roupas, o amor aos acessórios, a cremes, perfumes, loções, vinhos de qualidade, ambientes bem decorados e cidades sofisticadas, esses meninos, agora mais soltos, fazem a festa por onde passam.

Mulher gay já é outra conversa. São corporativistas, vivem em guetos e gostam de outras gays. Não gostam de homens e gostam de mulheres, mas com restrições - se forem peruas, por exemplo, já não gostam. Bebem muito, tem seus bares, suas músicas (Bethânia, Cássia, Ana, Simone, Zélia...), vestem-se com o que lhes esconda as formas e andam de perna aberta. Até de bicicleta, pode reparar, mulher hétero pedala de perna junta, enquanto elas, vão felizes de coxão aberto pelas ciclovias. Vou levar puxão de orelha, já tô vendo, tenho uma penca de amigas simpatizantes que adoram uma discussão, e tem coisa aqui, perna aberta e o escambau, que vai render no meu ouvido. Briguem comigo não, vocês sabem que, quando a coisa aperta no amor com os moços, só vocês me entendem, e um dia ainda mudo de lado. E, pra levantar, não há como negar-lhes o talento administrativo. Coloque num cargo de chefia e observe. São incansáveis, concentradas, organizadas, responsáveis, detalhistas, perfeccionistas e têm espírito de liderança. Estão cada vez mais na cabeça de grandes empresas e mandam como ninguém. Dizem os astrólogos, arrastando a sardinha, que essas características de ambos os lados se devem aos céus. Mulher gay geralmente (aqui é tudo geralmente, não se generaliza nesse assunto) tem Marte forte com Vênus fraca, e homem gay, o contrário - Marte representando o comando e objetividade, e Vênus a estética e curiosidade por outras culturas. Aquela bichinha comissária presente em todos os vôos está portanto explicada, o maquiador, o cabeleireiro, os decoradores, designers, figurinistas, camareiros, atores, também. É gay pra todo lado e já virou até refrão: tá faltando homem! A debandada é voraz e, na ala de cá, os machos que restam estão cada dia mais acuados, sem graça, e com o entusiasmo na sola do pé. Sinto dizer, meninas, mas boa parte disso se deve a nós mesmas - estamos masculinizadas! Pois se agora andam abolindo até a menstruação... Coloca-se uma plaquinha aderente no corpo e simplesmente a moça pára de sangrar. Não tem mais TPM, cólicas, inchaço, e até a celulite diminui. É perfeito, mas o romantismo, a possibilidade de procriar, o instinto maternal, as oscilações de humor, ou seja, tudo o que a faz mulher, ela também não tem. Então sai por aí no troca-troca desvairado, caçando feito homem, em nome de uma liberdade besta que está longe de satisfazer quem quer que seja. Ora, meninas, nós já ganhamos tanto espaço, será que não está na hora de aprender a lidar com isso? Esse 'faço, quero, aconteço e não dependo de ninguém' tá chato pra caramba. Sei não, mas sinto que um pouco de elegância, graça e doçura, a volta dessas delicadezas que a gente sempre teve sobrando, cairia feito uma bênção nesse momento de aperto.







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